terça-feira, 6 de maio de 2008

Reportagem: Tocha Olímpica

Chamas olímpicas, antes e agora
Depois de 28 anos, os Jogos Olímpicos se deparam com diferença de valores culturais e políticos
-Serge Schmemann - The New York Times-
No final, os Jogos Olímpicos de 1980 revelaram muito mais a paranóia e dureza das autoridades soviéticas do que sua organização de eventos esportivos - pelo menos para o Ocidente. Agora, da mesma maneira, nós estamos aprendendo muito sobre a China. E, assim como muitos russos não viam uma conexão entre as políticas do governo e os Jogos, muitos chineses parecem nervosos e convictos que "inimigos estrangeiros" estão deliberadamente tentando arruinar sua festa. Eu suspeito que o Comitê Olímpico Internacional (COI) também não percebeu que uma conexão pode ser feita entre o histórico da política dos Direitos Humanos de um país com o fato de sediar os Jogos.Existem limites, é claro, na comparação entre o campo militar fechado que era a União Soviética há 28 anos atrás e a riqueza da China de hoje. Mas isto apenas faz com que as similaridades entre as reação dos dois partidos comunistas seja mais evidente.O Ocidente talvez veja a China como uma potência militar e econômica do século XXI, onde presidentes e magnatas tentam abocanhar um pedaço da abundância. Apesar disso, o partido reinante continua consideravelmente ignorante das regras das sociedades abertas com as quais lida, e bastante inseguro perante qualquer dissidente tibetano, qualquer ativista dos Direitos Humanos e qualquer crítico do mundo ocidental. Um estado que sentencia um dissidente como Hu Jia a prisão por "incitar a subversão do poder do estado" ao simplesmente vazar ao mundo a política chinesa em relação aos Direitos Humanos.Escondido numa secreta, suspeita, paternalista e altamente burocrática cultura, a elite comunista chinesa pode apenas presumir que as elites do Ocidente são como eles, que protestantes em Darfur, Tibete ou a perseguição de dissidentes são apenas manobras políticas de um incrível cinismo.Os ataques à tocha olímpica pode apenas ser o trabalho de "inimigos". Eles estão em todos os lugares. No dia 17 de abril, a agência de notícias do estado de Xinhua divulgou uma reportagem sobre um chamado de um grupo de alemães para a realização de protestos pedindo a libertação do Tibete. "Reforçou a impressão de que existe um show de marionetes acontecendo por onde passa a tocha olímpica, com o Dalai Lama e seus apoiadores no palco e as forças anti-China lutando contra uma China em crescimento", disse a agência de notícias. Declarações como esta que alimentam a noção comum no Ocidente que protestos e boicotes apenas fortalecem a visão chinesa e as pessoas em volta do partido comunista. "Diplomacia discreta", nesta "escola de pensamento" é a aproximação mais útil. Certamente é mais útil para governos e negociantes buscando contratos milionários na China. Mas isto é efetivo? Um diplomata ocidental deu a dica de que soltar um dissidente seria ótimo para a imagem da China, mas poderia apenas reforçar o sentido que direitos humanos servem apenas para relações públicas.No final, debater a efetividade de protestos em massa ou diplomacia discreta não atinge o ponto desejado. Os protestos ao longo do percurso da tocha, incluindo os acontecimentos na Coréia do Sul, não foram obra de alguns alemães, mas são a expressão do genuíno inconformismo das pessoas em sociedades livres. Isto pode não persuadir a visão chinesa em relação aos Direitos Humanos, mas eles podem aprender que o custo do cinismo pode ser alto.

FONTE: http://www.estadao.com.br/esportes/not_esp164266,0.htm

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